os pais tinham discutido de manhã,
as aulas tinham sido cansativas
e o trabalho no restaurante também.
Era já tarde,
larguei a mochila da escola sobre a cama
e cuidadosamente dei um beijo na testa da Ana
que há muito que dormia como um anjo.
Desci as escadas e ia ver um pouco de televisão para a sala
quando o meu olhar se desviou por instantes para a cozinha.
A minha mãe estava estendida sobre o chão,
olhos negros, cabelo desgrenhado...
Já o meu pai estava agachado junto dela,
tinha o joelho a sufoca-la e o revólver junto da sua cabeça.
Ela não deitava uma lágrima, nem mesmo um grito...
Ele repetia com a sua voz grossa "Tu não tens noção do que fizeste?"
e talvez, de facto, ela não tivesse mesmo.
Tinha de acabar com aquilo e realmente acabei.
Sim, silenciosamente agarrei na primeira faca de cozinha que encontrei e mateio-o naquele dia tão estafante para mim...
Sara Vasques
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